O Brasil desperdiça anualmente 38% da quantidade de água em tratada e boa pronta para uso, que deixam as empresas de abastecimento e saneamento rumo às casas e fábricas. O desempenho do País, de acordo com a reportagem do Jornal O Globo, é muito mais pior do que os de Austrália (7%), e EUA (13%), e até mesmo dos de China (22%) e Rússia (23%). Vale lembrar que no Ceará, Estado que convive com a seca há seis anos, o desperdício também ocorre.

O desperdício desse valioso recurso natural se dá por meio de reservatórios que transbordam e de vazamentos em tubulações de distribuição antigas e mal cuidadas. De acordo com dados da “Conjuntura dos recursos hídricos do Brasil 2017”, da Agência Nacional de Águas (ANA), órgão regulador federal, atualmente 35% das redes do País têm vazamentos significativos.

Não bastassem as deficiências estruturais, o brasileiro ainda tem maus hábitos de uso da água, que os leva a jogar literalmente ralo abaixo parte do dinheiro pago às distribuidoras. Lavar a calçada com mangueira ou deixar a torneira aberta enquanto se escova os dentes, por exemplo, são práticas ainda comuns. E que agravam as condições de abastecimento em períodos de restrição hídrica, como o enfrentado por São Paulo em 2014, ou como ocorreu mais recentemente no Distrito Federal e que vem ocorrendo no Ceará.

“A perda é tudo aquilo que foi tratado, colocado na rede de distribuição, mas que ninguém usou, e as concessionárias também não receberam por esse consumo. Tem também a perda comercial, que é fruto de fraudes ou de hidrômetros que fizeram a medição errada”, explica Alexandre Lopes, presidente do Sindicato Nacional das Concessionárias de Serviços Públicos de Água e Esgoto (Sindcon).

Índice de perdas chega a 70% no Amapá

No Brasil, o padrão de desperdício de água é elevado em todo o País. Chega a estratosféricos 70,49% no Amapá, mas tem nos 30,23% de Goiás o mínimo registrado. O Sudeste tem a menor média entre as regiões, 34,7%. Combater esse tipo de desvio depende de investimentos das concessionárias, que nem sempre acompanham as necessidades da rede.

“É preciso fazer a medição das vazões por regiões menores, aí se melhora o controle e se consegue fazer a gestão da perda. É preciso saber para onde a perda vai. E é preciso fazer a renovação da rede e a atualização dos hidrômetros, o que deveria ser feito a cada cinco anos”, explica Lopes.

O grupo Águas do Brasil, que abastece 15 municípios brasileiros, implantou um projeto de modernização e campanhas educativas em Niterói ao assumir a concessão, em 1999. Quase 20 anos depois, tem resultados expressivos: o índice de perdas, que era de 40%, caiu a 16%. A economia seria suficiente para abastecer uma cidade com 150 mil pessoas.

Giuliano Dragone, diretor técnico da GS Inima Brasil, que tem concessões em Araçatuba e Ribeirão Preto, estado de São Paulo, afirma que também atua junto às famílias, com educação ambiental, focada nas escolas, e na avaliação permanente dos grandes consumidores. Consumo elevado à noite, por exemplo, é sinal de vazamentos. Ainda assim, diz Dragone, é difícil mudar a cultura do consumidor brasileiro. “Os maiores desperdícios ocorrem onde há uma abundância visível maior de água. Essa visão faz o Brasil ser um dos campeões em gasto desnecessário”, explica.

Fora das concessionárias também há iniciativas para a redução do desperdício de água. A Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) do Estado de São Paulo, por exemplo, tem entregue projetos residenciais com medição individual da água. Em vez de a conta ser emitida para o condomínio, sendo rateada igualmente entre todos os apartamentos, cada residência recebe uma fatura, o que favorece o aumento da conscientização.

Com informações do Jornal O Globo