A sífilis voltou a ser uma epidemia no Brasil, e o alto número de infectados preocupa especialistas da saúde. A doença não escolhe gênero, idade ou classe social. Bebês, jovens, adultos, gestantes e idosos podem ser um entre os milhões infectados por ano. A falta de uso de preservativos e a não conclusão de tratamentos dificultam o combate à enfermidade, que se tornou uma das infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) mais recorrentes no país e no mundo. Com o objetivo de debater o diagnóstico e as soluções para o controle da epidemia, o Correio promoveu, ontem, o seminário Correio Talks: Infecções sexualmente transmissíveis e o combate à sífilis no Brasil.

Dados do Boletim Epidemiológico da Sífilis-2018 mostram que a taxa de detecção da sífilis adquirida aumentou de 44,1 para cada grupo de 100 mil habitantes, em 2016, para 58,1/100 mil em 2017. No mesmo período, a infecção em gestantes cresceu de 10,8 casos por mil nascidos vivos para 17,2. Já a sífilis congênita passou de 21.183 casos em 2016 para 24.666 em 2017. O número de óbitos por sífilis congênita foi de 206 casos em 2017, enquanto em 2016, tinha ficado em 195.

A médica infectologista e presidente da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, Valéria Paes, uma das palestrantes do evento, afirmou que, mesmo que uma pessoa não apresente sintomas, pode ser portadora da doença. A especialista explicou ainda que a sífilis é uma infecção sexualmente transmissível (IST) e não uma doença sexualmente transmissível (DST). Por isso, pode ser assintomática.

A recomendação é de que não aguarde a presença de sintomas para buscar o teste. Para uma vida sexual ativa e saudável, faz parte a realização de exames periódicos. O exame detecta e possibilita o tratamento precoce e interrompe o ciclo de transmissão da doença. Algumas pessoas não acham que têm o risco de ter sífilis, julgam pela aparência ou pela relação de confiança, explica.


Valéria ressalta a importância de alertar a população para a questão das ISTs, ainda um problema de saúde pública.

Muitas pessoas ainda acham que essas doenças não existem mais, ou não sabem bem como se prevenir”, complementa. Para a especialista, a sífilis é uma das infecções mais preocupantes, principalmente por conta das complicações que pode causar. “Todas as ISTs estão relacionadas à redução do uso de preservativos, e temos de nos aprofundar em saber por que isso está acontecendo, frisa.

Diagnóstico

O diagnóstico precoce é essencial para uma boa recuperação do paciente. É o alerta da diretora do Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das IST, do HIV/Aids e das Hepatites Virais (DIAHV) do Ministério da Saúde, Adele Benzaken. Mesmo em pessoas que têm acesso a informação, há, muitas vezes, resistência para procurar uma unidade de saúde e seguir com o tratamento. Outro obstáculo é, inclusive, a falta de orientação por parte dos profissionais de saúde que, muitas vezes, hesitam em aplicar a penicilina (principal medicamento de cura da sífilis) no paciente.

“Um dos principais trabalhos de prevenção é a boa orientação médica ou a ida do paciente ao consultório ainda nos primeiros sintomas da doença. Se a sífilis for diagnosticada no início, a cura é mais rápida. A penicilina é o remédio mais indicado para o tratamento”, pontua. A especialista ressalta ainda que o Ministério da Saúde já disponibiliza testes rápidos para diagnóstico em unidades de saúde, diminuindo a burocracia em torno do tema. “A sífilis difere do HIV, porque é generalizada, em vez de atingir apenas os mais vulneráveis. Está em toda a população.”

É importante também destacar, de acordo com Adele, que uma pessoa curada da doença, que tenha concluído 100% do tratamento, sempre terá nos exames as taxas apontando para o resultado positivo. “Não é para se assustar. Nesses casos, aparecerá positivo, mas a pessoa não tem sífilis. Porém, se tiver largado o tratamento no meio, não ter tomado as doses certas de penicilina, e ainda assim der positivo, deve começar o tratamento imediatamente”, avisa.

Com informação do Correio Braziliense