Candidato do PDT à Presidência da República, Ciro Gomes fez a aposta mais arriscada de sua campanha até aqui. A estratégia: mirar no espólio de votos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) — que pode ter a candidatura indeferida pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) até o fim desta semana. Para isso, vale até mesmo dizer que deseja manter distância dos eleitores “egoístas” do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL).

Questionado pela Jornal Correio Braziliense sobre a estratégia para atrair os votos dos eleitores de Bolsonaro, o pedetista foi direto: “Eu não quero buscar os votos de todo mundo, não”. E continuou: “Eu quero buscar os votos dos brasileiros, homens e mulheres, decentes, equilibrados, serenos, que têm solidariedade com os mais pobres”.

Em seguida, entretanto, Ciro foi mais enfático, deixando exposta a estratégia eleitoral: “Tem uma fração da população — que respeito porque é o meu povo e quero ser presidente de todos — que vive com uma pedra no coração, são egoístas, pouco estão se lixando para os 13 milhões de desempregados, para o problema dos 32 milhões que vivem correndo da repressão nas ruas para vender”.

Na mais recente pesquisa, feita pelo Instituto Datafolha na semana passada, no cenário sem Lula, o capitão reformado cresce apenas três pontos percentuais, de 19% a 22%; Marina Silva (Rede) sai de 8% e chega a 16%; e Ciro passa de 5% para 10%. O pedetista supera, inclusive, Geraldo Alckmin (PSDB) que, assim como Bolsonaro, ganha três pontos percentuais, ficando com 9% das intenções de votos. O ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, aparece com apenas 4%.

A leitura mais óbvia é de que os votos de Lula se dividem preferencialmente entre Marina e Ciro. E, assim, ele foi para cima do eleitor de Bolsonaro: “O cara que vota no Bolsonaro está querendo que o Brasil morra. Está querendo que a minha nação seja destruída. Não quero saber disso para mim, isso é inimigo da pátria.”

O problema da estratégia do pedetista está nos riscos. O primeiro deles é que, por mais consolidado que hoje o voto de Bolsonaro pareça estar, o horário eleitoral pode levar a uma mudança de cenário, pois o capitão reformado terá menos de 10 segundos do tempo de tevê. O outro é irritar a maioria dos eleitores do deputado federal, a ponto de criar rejeição imediata ou mesmo inviabilizar pedidos de votos no futuro. “Ele (Bolsonaro) nem é o meu adversário preferido, mas eu tenho uma obrigação cívica em combater o protofascismo”, disse o ex-governador, antes de participar de encontro com reitores da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), em Brasília. Ao citar o protofascismo — uma etapa anterior ao fascismo, propriamente —, Ciro completou: “Bolsonaro é mistificador, perigoso e fascista. É um projetinho de Hitler tropical e muito mal preparado, porque Hitler pelo menos era um intelectual razoável”.

Provocação

Ciro ainda provocou Bolsonaro ao dizer que não veria problema se o filho, de 2 anos de idade, brincasse com uma boneca. “Eu tenho um filho de 2 anos e oito meses e, se ele ficar brincando com a boneca, eu brinco junto. Qual é o problema? Ou alguém acha que alguém vai afirmar a sua orientação sexual por causa de um brinquedo? Isso é de uma ignorância estapafúrdia”.

Com os integrantes da Andifes, Ciro, ao criticar “desmandos” de juízes e promotores, lembrou do reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Luiz Carlos Cancellier, acusado e preso pela Polícia Federal. Cancellier, que sempre alegou inocência, se atirou do sétimo andar de um shopping de Florianópolis 18 dias depois da prisão. Na calça dele havia um bilhete em que culpava a operação pelo suicídio.

Com informações do Jornal Correio Braziliense