A reciclagem automotiva tem avançado no Brasil, mas está longe do ideal. Embora o país tenha dobrado o volume de reciclagem de carros velhos e batidos na última década, hoje reaproveita apenas 1,5% das carcaças apodrecidas e das peças enferrujadas abandonadas em pátios e ferros-velhos em todo o país, de acordo com as projeções do Sindicato das Empresas de Sucata de Ferro e Aço (Sindinesfa). É um percentual irrisório, e o mais baixo do mundo entre as economias mais desenvolvidas, dentro de um mercado com 35 milhões de carros em circulação — dos quais mais da metade se aproxima da aposentadoria, com mais de 15 anos de uso.

Na Argentina, no Japão e nos Estados Unidos, por exemplo, o índice de reciclagem varia de 80% a 95%. Na Dinamarca, Suécia e Noruega, é de 100%. “O Brasil precisa criar um modelo viável para retirar de circulação os veículos sem condições de rodar em centros urbanos e nas estradas”, afirma Eduardo Santos, consultor e coordenador técnico da Ilha de Reciclagem Automotiva, empresa especializada no setor. “Para que isso ocorra, o governo deveria criar um sistema inteligente de incentivos, de modo que um veículo sem condições de circular com segurança seja retirado das ruas e destinado corretamente para a reciclagem.”

A regulamentação para desmontagem e utilização das peças de reúso de origem lícita seria um motor para a economia nacional, segundo a Associação Nacional dos Remanufaturados de Auto Peças (Anrap). Discretamente, algumas iniciativas começam a surgir nesse sentido. O mercado de seguros, por exemplo, já oferece apólices mais baratas, desde que autorizado o uso de peças procedentes de empresas registradas no Detran. Além do incentivo financeiro, é uma oportunidade para inclusão securitária. Apenas 30% da frota brasileira é segurada. “Estamos numa época em que se fala muito em reaproveitar, reduzir e reciclar, mas a indústria sabe onde ela tem poder para fazer a diferença, diante de um mercado cada vez mais consumidor e preocupado com a poluição, resíduos, reciclagem e tudo que possa melhorar a qualidade de vida e gerar renda”, acrescenta Santos.

A Renova Ecopeças, vinculada ao Grupo Porto Seguro, executa o desmonte dos veículos irrecuperáveis que aparecem na seguradora. O procedimento — feito em sete fases — dura três horas, em média. Os trabalhos vão da análise completa da documentação do veículo até a descontaminação, destinação ambiental responsável dos resíduos potencialmente lesivos à natureza, separação das peças e aplicação do rastreamento indispensável à revenda. São detalhes que mostram a procedência dos itens a serem resgatados na operação de reciclagem. O preço de repasse atinge a um quinto do valor de uma peça nova. Plásticos, vidros, pneus e metais, que correspondem a 10% de um veículo, também podem ser reciclados, o que reduz a emissão de gases de efeito estufa e o consumo de recursos naturais para fabricação de outros bens.