Fora do PT há três anos e, após mais de três décadas de história na sigla construída pelo ex-presidente Lula, a senadora Marta Suplicy (MDB) que, neste ano, desistiu de concorrer à reeleição, reacendeu, nessa segunda-feira, a polêmica gerada em plena campanha eleitoral pelo senador eleito Cid Gomes que cobrou ao Partido dos Trabalhadores uma autocrítica sobre os erros do passado e um pedido de desculpas ao Brasil.

As críticas de Cid Gomes foram feitas durante evento liderado pelo governador Camilo Santana, em Fortaleza, como estratégia de fortalecer a candidatura de Fernando Haddad no segundo turno da disputa pela Presidência da República. As críticas de Cid arderam no PT e geraram ásperas palavras em direção ao ex-governador e senador eleito pelo PT.

Passado mais de um mês do episódio, a senadora Marta Suplicy colocou o assunto na pauta política em ampla entrevista ao Jornal Folha de São Paulo. Marta fez referência à cobrança de Cid Gomes ao PT quando foi indagada pela reportagem da Folha se não via indicia de que no MDB, quando, em 2015, se filiou à sigla, não indícios de que ali também havia desvios de conduta política.

Como resposta ao questionamento, Marta disparou:  ‘’Do jeito que depois ficou aparente, não. Que tinha pessoas como o [Eduardo] Cunha, o Geddel Vieira Lima, não. Tinha falação, alguns sendo indiciados, mas não tinha a dimensão que ganhou depois. A corrupção sempre existiu, mas se agigantou nos governos petistas. O PT tem que aceitar isso. O Cid Gomes falou tudo certo, concordo plenamente [ele disse que o PT “tem de pedir desculpa, ter humildade” e reconhecer que fez “muita besteira”

Marta, ao ser questionada sobre a desistência pela reeleição, justificou que a desmotivação a atingiu: ‘’No dia de vir para Brasília, eu não tinha vontade. Ir para o aeroporto era um suplício. Estava totalmente desmotivada, diante da política deteriorada, das vendas de emendas que eram noticiadas, dos projetos favorecendo grupos. Aquilo foi me dando ojeriza. Aí caiu a ficha: o mundo mudou, posso fazer hoje de outro jeito. O Senado não é mais uma caixa de ressonância. Fora eu também posso influenciar’’.

Em outro ponto da entrevista, ao ser indagada sobre o fim da carreira política, a senadora pelo MDB afirma: ‘’Eu não quero mais ser candidata a nada, mas quero continuar na política. Tenho uma bagagem e posso acrescentar muito ainda’’. Sem mandato pelos próximos anos, Marta se diz de esquerda de valores e de direita na economia. Tem, porém, outra visão sobre os conceitos de direita e esquerda: ‘’A nomenclatura esquerda e direita há muito tempo não se sustenta. Eu mesma sou de esquerda em valores, mas não sou mais na economia. Mudei’’, observou.

Ex-deputada federal, ex-prefeita de São Paulo e ex-ministra no Governo Dilma, Marta Suplicy tem queixas sobre os novos rumos da classe política. ‘’Houve o distanciamento da classe política com a população, o envolvimento na corrupção e a dificuldade em lidar com as questões da segurança. A eleição do Bolsonaro, uma pessoa com ideias opostas, é a consequência. Por isso eu acho que o Mano Brown tem razão. Ele colocou o PT, mas eu ampliaria para os políticos em geral o rapper disse que, se o PT “não conseguiu falar a língua do povo, tem que perder mesmo”.

Sobre o PT e o papel do ex-presidente Lula na campanha, Marta é crítica e irônica: ‘’Tétrico’’, assim define o papel de Lula para, em seguida, acrescentar: ‘’Ele focou na pessoa dele e escanteou de forma vil o Ciro Gomes, que era a candidatura com a qual as esquerdas poderiam talvez ter tido alguma chance. Eu própria votei no Ciro, porque achei que ele tinha o melhor discurso. Mas o Lula não permitiu isso. Ali ele selou o destino das esquerdas’’.

A entrevista na íntegra está em uol.com.br