O incêndio que destruiu o acervo do Museu Nacional, na noite desse domingo, no Rio de Janeiro, serve de alerta para os prédios públicos que abrigam acervos e arquivos com peças, materiais e documentos sobre a história em cidades da Grande Fortaleza e do Interior do Estado. A tragédia no Rio de Janeiro retrata a degradação da vida nacional nos últimos anos: a corrupção que desfalca o orçamento público para obras e ações indispensáveis a vida da população gera, ao mesmo tempo, descaso com a cultura e a história. Descaso do poder público e indiferença dos governantes com o patrimônio cultural de uma Nação.

O Museu Nacional pegou fogo e mais de 200 anos de história se transformaram em fuligem. Há suspeita da queda de um balão sobre o telhado do prédio como um dos fatores para o fogo. A perícia será realizada para a certificação sobre as razões reais do incêndio, mas o sepultamento de objetos, documentos, peças, verdadeiras relíquias que dão base à história e a cultura do Brasil, de forma tão degradante, deixa um rastro de prejuízos e de uma memória que jamais será recuperada.

A morte dessa história – diante dos dissabores que os brasileiros enfrentam com a corrupção, a violência e a corrosão de valores éticos e morais na vida política e social do País, ficará nas estatísticas como mais um episódio qualquer. Algo parecido com a sequência de assassinatos de inocentes vítimas da violência que gera comoção e, com poucos dias, caia no esquecimento ou entram para estatísticas sem solução e com muita impunidade.

Se diariamente centenas de famílias brasileiras enfrentam o luto pela perda prematura de parentes para a criminalidade, hoje o luto ganha também dimensão de uma tragédia que, certamente, poderia ser evitada. O cheiro do fogo tostando papéis e documentos colecionados ao custo do suor, da dedicação e do zelo de servidores públicos que, ao longo de dois séculos, ajudaram a criar e alimentar a história no Museu Nacional é sentido por quem está no Rio de Janeiro ou em qualquer parte do Brasil. É triste este fim de uma parte da nossa história.

A dimensão dos estragos pode ser definida nas palavras do vice-diretor do Museu Nacional, Luiz Fernando Dias Duarte:  “Não vai sobrar praticamente nada. Todo o prédio foi atingido. Um absurdo o descaso e abandono que estava esse museu icônico. É como se queimassem o Louvre ou o Museu de História Natural de Londres”, lamentou   Dias Duarte, ao relatar sua crença de que, com após o incêndio, restarão apenas a biblioteca central e as coleções de botânica e zoologia vertebrada, que estavam em prédio anexo.

O incêndio no Museu Nacional serve como alerta para o Governo do Estado e as Prefeituras dos Municípios do Ceará, especialmente, de Fortaleza, onde está sediada a maior parte dos prédios públicos com acervos sobre a nossa historia, cuidarem melhor desse imenso patrimônio que passa de geração em geração. A omissão no presente significa a tragédia inevitável no futuro.

IMPORTÂNCIA DO MUSEU NACIONAL 

O Museu Nacional, ligado à Universidade Federal do Rio de Janeiro, reunia algumas das mais importantes peças da história natural do País, como Luzia, o esqueleto mais antigo já encontrado nas Américas. Com cerca de 12 mil anos de idade, foi achado em Lagoa Santa, em Minas Gerais, em 1974. Trata-se de uma mulher que morreu entre os 20 e os 25 anos e foi uma das primeiras habitantes do Brasil.

A descoberta de Luzia mudou as teorias sobre o povoamento das Américas. Outra peça marcante do Museu Nacional é o meteorito Bendegó, o maior já encontrado no Brasil e que tinha destaque no saguão do prédio. Com 5,36 toneladas, a rocha é oriunda de uma região do Sistema Solar entre os planetas Marte e Júpiter e tem cerca de 4,56 bilhões de anos. O meteorito foi achado em 1784, em Monte Santo, no sertão da Bahia. Está na coleção desde 1888.

Em janeiro deste ano, professores dos cursos de pós-graduação que trabalham no Museu Nacional se uniram para pagar a passagem de ônibus da equipe de limpeza. Eles temiam que a sujeira afetasse o acervo, composto de muito material orgânico, sensível a micro-organismos.

 

Principais Museus do Ceará

Museu do Ceará
Arquivo Público
Casa dr. José Lourenço
Casa Jose de Alencar
MIS – Museu da Imagem e do Som do Ceara
Museu do Farol do Mucuripe
Mausoleu Castelo Branco
Museu Vivo do Padre Cícero
Museu de Peleontologia de Santana do Cariri
Museu Dom Jose Sobral
Museu do Eclipse – Sobral
Museu Sacro São José de Ribamar – Aquiraz
Museu Jaguaribano – Aracati
Museu Clovias Beviláqua – Viçosa do Ceará
Museu de História do Crato
Museu de História Natural da Urca
Museu Pré-História de Itapipoca
Museu regional São Francisco – Canindé

* Texto extraído do Jornal O Estado de São Paulo