O PC do B quer unir os partidos de esquerda, incluindo o PDT, do presidenciável Ciro Gomes, e o PT, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, já para o primeiro turno das eleições presidenciais. O partido considera pelo menos cinco fatores para tentar a união, alternativa para evitar, na avaliação da sigla, que a esquerda continue pulverizada, em meio a união da direita em torno do deputado federal Jair Bolsonaro (PSL-RJ) e o centro, do ex-governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB).

Dos motivos apresentados pelo partido ao longo de três dias de reuniões, entre sexta-feira, 20, e domingo, 22, o mais forte é o fator Lula. O PC do B, aliado histórico do PT em pleitos há três décadas, indicou não acreditar que Lula conseguirá ser candidato. O partido apoiou os petistas em todas as eleições presidenciais desde a redemocratização. Neste ano, o PC do B tem o nome da deputada estadual Manuela D’Ávila (RS), mas indica que poderia abrir mão em prol da união entre PT, PDT e PSB para a disputa presidencial.

Em comunicado emitido no final do ciclo de reuniões, no domingo, o PC do B disse querer “a unidade, já no primeiro turno, para vencer as eleições”. Para o comitê central do partido, a estratégia política “deve ter por centro a vitória eleitoral em outubro”. “O que exige marcharem unidos desde já”. Mas, para que isso aconteça, o partido indicou ao longo das reuniões ao menos seis itens que precisariam ser superados. Se não houver alterações, a tendência principal do partido é manter a pré-candidatura de Manuela. “Porque a dispersão das nossas forças prevalece e nós, com a pré-candidatura, podemos influenciar naquilo que nós defendemos”.

1 – ‘Lula não é o candidato’

Na sexta-feira, 20, a presidente nacional do PC do B, deputada federal Luciana Santos (PE), disse acreditar que a esquerda tem “muita chance de ganhar” a eleição. “Mas temos que ter uma compreensão dos partidos políticos, principalmente do PT por motivos óbvios”. Ela se referia à situação de Lula, que, em função de sua condenação em segunda instância, atualmente, está inelegível.

“O que ocorre? Uma coisa é você ter Lula. Lula candidato presidente da República não dá para ninguém, é todo mundo se juntar e a gente ia ‘simbora’ fazer o bom debate”, lembrou. “Mas acontece que não é Lula o candidato. Será um candidato do PT. Então é mais fácil para as forças desse conluio que deu o golpe”. Para Luciana, a resposta mais contundente que a esquerda “pode dar à injustiça de Lula estar preso e a esse estado de coisas é vencer as eleições”.

2 – Tática de risco

Em mais de uma oportunidade, a líder do PC do B disse ser arriscada a estratégia dos petistas de manterem a candidatura de Lula tendo em vista a possibilidade de ela ser barrada pela Justiça Eleitoral e o partido ficar de fora da eleição. “Nós achamos que é uma tática que o PT está utilizando de altíssimo risco”, disse.

O PT tem sustentado que irá levar a candidatura de Lula até as últimas consequências. Consultores do partido apontaram que é possível tentar reverter a inelegibilidade de Lula até depois da eleição, antes da diplomação dos eleitos, em dezembro.

3 – Pulverização de votos de Lula

A presidente do PC do B avalia que o PT precisaria entender que uma eleição sem Lula como candidato é diferente. “Não é Lula que vai ser enfrentado. É o PT que vai ser enfrentado”, comentou. “Enfrentar Lula é uma coisa, mas enfrentar o PT não é, assim, enfrentar Lula”.

Os cenários sem o ex-presidente também foram comentados pela deputada. “Quando você tira Lula da cena, não quer dizer que os votos vão para o candidato do PT. Há uma transferência, por óbvio, mas ela não é automática. Ela é diluída”, disse.

Luciana indicou que os votos de Lula têm ido para atores diversos, como a ex-senadora Marina Silva (Rede) e o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL). Na última pesquisa Datafolha, divulgada em 10 de junho, em cenário em que Lula não está e ele é substituído pelo ex-prefeito paulistano Fernando Haddad (PT), Bolsonaro tem 19% das intenções de voto, Marina, 15%, Ciro, 10% e Manuela, 2%. Haddad fica com 1%. Já no último levantamento do Ibope, de 26 de junho, Bolsonaro registrou 17% das intenções de voto, Marina, 13%, Ciro, 8%, Haddad, 2% e Manuela, 1%.

4 – Isolamento

Luciana pontuou que as alianças para a eleição deste ano precisam ser fechadas até 5 de agosto, quando se encerra o prazo para realização de convenções partidárias. “O que é que está se desenhando, camaradas? Infelizmente, o isolamento”, disse a integrantes do PC do B. “Por enquanto, o que se tem é um isolamento por parte do PT. Um isolamento de Ciro”. Atualmente, a presidente enxerga o partido no “centro do tabuleiro”. “Para onde o PC do B for, vai ajudar a consolidar um caminho ou outro”.

Em sua avaliação, as pré-candidaturas de Geraldo Alckmin (PSDB) e Henrique Meirelles (MDB) saem na frente em função de um ser o candidato das reformas e o outro, de Temer, sendo que os dois contariam com ajuda da “máquina do governo”.

5 – Conquista do centro

As alianças já acertadas por Alckmin com o Centrão fazem com que o tucano possa ter força para desconstruir a candidatura de Jair Bolsonaro (PSL), acredita a presidente do PC do B. “Eles podem virar alternativa sem Lula no páreo e com essa dispersão das nossas forças”.

Com candidaturas espalhadas na esquerda, Luciana acredita em dificuldades se não houver união entre os partidos desse espectro político. “Esse que é o nosso impasse. Nós temos partidos pulverizados. Não conseguimos fazer as alianças e disputar setores do Centro”. Para ela, teria sido positivo se Ciro tivesse conseguido conquistar o Centrão porque isso “iria dividir a direita”. “Isso que ia colocar outras condicionantes para a disputa eleitoral. Então, camaradas, o cenário é muito adverso para nós”.

6 – Projeto de país

Em crítica ao PT e ao PDT, partidos que têm cobiçado o PC do B por aliança na disputa presidencial, Luciana indicou estar vendo mais projetos partidários, não de país. “Para nós, é preciso que eles estejam abaixo do projeto nacional. Não pode um projeto partidário ficar acima de um projeto de país e de Brasil”, comentou. “Infelizmente, nesses atores, isso é o que tem prevalecido. Nos atores principais dessa disputa, o que tem prevalecido é isso, camaradas, infelizmente”, disse a presidente a membros do PCdoB.

“Dependendo dessas peças, quando elas se mexerem, a gente vai poder ver qual o melhor cenário, se vai ser mais ou menos favorável para a gente ganhar as eleições pela quinta vez consecutiva”. Uma definição do partido precisa acontecer até 1º de agosto, quando será realizada a convenção nacional do PCdoB, em Brasília.

Com informações e foto do Portal Uol Notícias