Mesmo com potencial de crescimento no cenário eleitoral, caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não consiga se candidatar, Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo e vice na chapa de Lula, terá pela frente uma série de obstáculos para tentar viabilizar uma eventual candidatura presidencial. Para cientistas políticos, uma possível transferência de votos está distante de ser automática, uma vez que, mesmo com baixa rejeição, o eleitor não demonstra ainda identidade com a figura do ex-prefeito de São Paulo.

Entre as dificuldades apontadas, a maior delas é justamente a ausência física de Lula, preso em Curitiba desde abril. Há outras questões sensíveis para Haddad, como o desgaste do partido com denúncias de corrupção e menos tempo de TV no horário eleitoral gratuito. Haddad se tornou uma espécie de refém do discurso do próprio partido, que mantém a estratégia de levar o nome de Lula “até as últimas consequências”, diminuindo a aderência de seu nome no eleitorado.

Na avaliação de Márcia Cavallari, diretora-executiva do Ibope, sem Lula, Haddad poderia crescer pelo menos 10 pontos percentuais nas pesquisas. A análise leva em consideração o cruzamento de dois dados da última pesquisa presidencial realizada pelo instituto: as intenções voto de Lula, que chegam a 37%, e os eleitores que dizem ter certeza de que vão votar no ex-prefeito de São Paulo, caso ele seja o candidato apoiado pelo líder petista, que são 28% dos entrevistados. “Há um potencial de transferência. Mas isso depende do poder de comunicação da campanha do Haddad. Justamente de falar para o eleitor que é o candidato do Lula”.

O diretor do Datafolha, Mauro Paulino, observa que a presença de Lula na campanha foi determinante para a vitória de Dilma Rousseff. “Assim como a Dilma, Haddad também terá que se tornar conhecido e ao mesmo tempo mostrar que tem capacidade. A Dilma foi conquistando os eleitores aos poucos com o Lula a tiracolo. São uma série de obstáculos que precisam ser transpostos em pouco tempo”, afirma Mauro Paulino, diretor-geral do Datafolha.

Numa hipótese de Haddad chegar ao segundo turno, outro entrave pode ser a rejeição a Lula, a maior entre os candidatos: 34%, segundo o Datafolha. Oswaldo Amaral, doutor em ciência política pela Unicamp, concorda que a rejeição deve ter um peso maior no segundo turno. “No primeiro turno, como o cenário é pulverizado e há quatro candidatos competitivos, isso não atrapalha muito. No segundo turno, sim”, diz Amaral.

Pablo Ortellado, professor do curso de gestão de políticas públicas da USP, acredita que o maior obstáculo para Haddad como presidenciável seria a limitação da presença de Lula na campanha. “Há uma série de limitações e bloqueios para a campanha por causa da prisão de Lula. Então, o maior obstáculo é essa indefinição sobre o quanto ele (Lula) poderá aparecer na campanha para transferir os votos, associado ao curto tempo de TV para que Haddad se torne conhecido”.

PT mantém aposta

Ainda assim, os resultados das pesquisas do Ibope e também do Datafolha não devem alterar a estratégia de campanha do PT para a disputa presidencial. A avaliação é que a transferência do ex-presidente Lula para Haddad se intensificará a partir do momento que a troca do cabeça de chapa for oficializada.

Quando Haddad se tornar candidato a presidente, o partido deve se valer de uma série de vídeos já selecionados com elogios de Lula ao ex-prefeito para reforçar a ligação entre o padrinho político e seu afiliado.

Os dirigentes da sigla argumentam que, mesmo que fosse avaliada como necessária, a troca não poderia ser feita antes de finalizado o julgamento da impugnação do ex-presidente da Justiça Eleitoral. De acordo com uma liderança petista, o partido ficou refém do próprio discurso, propagado desde o ano passado, de que levaria a candidatura de Lula até as últimas consequências.

Há uma divisão na legenda sobre o momento ideal para fazer a mudança. Uma ala, mais próxima de Haddad, defende e torce para que isso aconteça nos primeiros dias de setembro.

Nesse cenário, ele teria um mês para rodar o país como candidato a presidente e com Manuela D’Ávila (PCdoB) de vice. Outro grupo, porém, do qual faz parte a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, defende a mudanças às véspera do dia 17, data limite estabelecida pela legislação eleitoral para a substituição.

Por ora, Haddad está sendo tratado como candidato vice no material de campanha do PT, mas com um protagonismo incomum para os políticos que ocupam o posto.

Com informações do Jornal O Globo