A tentativa de conseguir votos a partir da facada sofrida pelo candidato Jair Bolsonaro (PSL), em Juiz de Fora, na última quinta-feira, 6, tem dividido aliados do ex-capitão do Exército, internado desde sexta em uma UTI do hospital Albert Einstein, em São Paulo.

O entra e sai na UTI já tem gerado rusgas no círculo mais próximo do candidato. O senador Magno Malta (PR-ES), que chegou a ser cotado para vice da chapa presidencial, vem se destacando com atitudes que têm sido reprovadas por outros aliados do capitão reformado do Exército.

Na sexta-feira, 7, Malta gravou vídeo dentro da UTI ao lado de Bolsonaro e publicou nas redes sociais. O paciente fala com dificuldade frases curtas com agradecimentos.

O pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus, entrou na UTI acompanhado de Malta e fez vídeos rezando por Bolsonaro, que, deitado, mexendo apenas os olhos, fala em “milagre” e agradece a Deus.

No domingo, 9, Malta publicou nas redes sociais uma imagem da cicatriz do presidenciável após a operação. A imagem mostra um grande corte, cheio de pontos, atravessando o abdômen de Bolsonaro, e também um dreno no local da facada.

O senador passou a ser criticado por grande parte de seus seguidores, que argumentavam que a foto era invasiva, apelativa ou desnecessária. Segundo ele, a intenção seria mostrar que não há invenção e que o ataque foi real. “Isso é mentira, canalhas? Força, meu irmão!!! Deus, o Brasil com você”, escreveu Malta.

Tamanho acesso a Bolsonaro incomodou a equipe médica e a família, que se preocupam com a possibilidade de infecção e pensam na necessidade de repouso para a recuperação.

No sábado, 8, o hospital divulgou boletim em que reforçava a instrução para que a UTI seja frequentada apenas pela esposa, Michelle, e pelos filhos, que passaram a controlar com mais rigor as visitas.

Eduardo, deputado federal, e Flavio, candidato ao Senado, fizeram pronunciamentos públicos pedindo a compreensão daqueles que desejam visitar o pai, ressaltando que não seria possível receber mais ninguém.

O único autorizado desde então a entrar na UTI além da família foi o advogado de Bolsonaro e presidente do PSL, Gustavo Bebianno.

Nesse domingo, 9, ao Jornal Folha de São Paulo, o general Hamilton Mourão, vice de Bolsonaro, foi crítico aos excessos dos visitantes, sem mencionar diretamente a quem se referia.

“Ele está numa recuperação e não é para ficar fazendo oba oba como fizeram. Exageraram totalmente”, afirmou. Segundo o general, neste momento devem ser priorizadas visitas de familiares. “É uma área de isolamento, qualquer resfriado que pegue ali ele morre.”

Mentor econômico de Bolsonaro, Paulo Guedes foi ao hospital no sábado, 8, mas ressaltou que não quis entrar na UTI. Disse que o momento é de respeito à família e ao paciente. Perguntado sobre o que achava daqueles que têm entrado no quarto e não são familiares, balançou a cabeça e disse: “você é um cara inteligente”, em nítida reprovação.

Por outro lado, ainda que os atos exacerbados estejam sendo vistos com maus olhos, a ferida de Bolsonaro deve ter protagonismo na campanha. A estratégia é transformar o presidenciável em algo parecido a um mártir, colocando-o como o político que pôs a própria vida em risco em nome da crença em um projeto de país.

Nesse sábado, 8, os perfis na internet de Flavio Bolsonaro e do PSL compartilharam a imagem de uma camiseta com os dizeres “Meu Partido É o Brasil”, rasgada e ensanguentada.

Trata-se de uma montagem que faz referência à camiseta utilizada por Bolsonaro no dia em que foi esfaqueado. A peça verdadeira foi cortada pelos médicos e descartada.

“O Brasil virou um país de covardes. Quando alguém fala em dar o sangue pela pátria geralmente é bravata. Ele estava consciente de que isso [a facada] podia acontecer”, disse Bebianno, defendendo o uso das imagens do ataque na campanha. “Tem que manter viva na memória das pessoas [a imagem da facada].”

Procurada, a assessoria do hospital não se manifestou. Nesse domingo, novo boletim médico afirmou que Bolsonaro apresenta leve anemia, mas quadro clínico em evolução.

Com informações do Jornal Folha de São Paulo